top of page

O Jiu-jitsu já foi um esporte muito ‘glamourizado’. No auge da modalidade nos anos 80 e 90 (e mesmo antes disso), muitas academias eram na Zona Sul do Rio e era difícil treinar se a pessoa não tinha condições financeiras, a não ser por meio de bolsas. Hoje, apesar dessa disparidade não ser mais tão grande, o Jiu-jitsu continua sendo um esporte caro. Não são baratas as aulas da modalidade em academias e o próprio material de treino custa caro, não é simples desembolsar dinheiro para comprar um kimono e uma faixa para iniciar. Então é que surge a importância de um projeto social que leve a arte suave para dentro das comunidades, apresentando a pessoas que talvez não tivessem contato com o esporte, para quem quiser aprender, independente de poder pagar por isso ou não.

 

Estar disposto a ensinar algum esporte já exige muita coragem, pois, na maioria dos casos, isso não trará um grande retorno financeiro. Dar aulas em um projeto social é mais que isso, o retorno financeiro não é o objetivo desses professores, que batalham para passar o seu melhor aos alunos.  “Isso para mim é o maior benefício, nenhum dinheiro vai comprar. É o abraço da criança, o sorriso, isso já vale mais do que tudo”, conta o Professor Thiago Sorriso, que dá aulas de Jiu-jitsu na comunidade do Borel, zona norte do Rio. O Professor Marcio de Deus, da Infight, também tem um projeto social no Jiu-jitsu e fala da satisfação de poder ajudar o próximo: “A lição que fica é que fazer o bem e ajudar as pessoas vale muito a pena. Às vezes faço loucuras, mas ver o sorriso e realização da garotada é muito bom”, diz.

 

Thiago Sorriso é professor no Projeto Brazil-021, que nasceu da ideia de dois alunos e do desejo já existente dos Professores André Terêncio e Hannette Staack, líderes da equipe Brazil-021 School of Jiu-jitsu, que tem núcleos no Brasil, América do Norte e Canadá. Francisco Junior e André Luis eram alunos de André Negão, como é conhecido, e sentiam a necessidade de levar a arte suave para o Borel, onde moravam, pois a influência seria positiva na vida dos outros jovens. “Como dizer não para uma causa nobre como esta, uma vez que eu e a Hannette somos de origem humilde e sabemos muito bem o que é querer fazer algo e não ter condições de pagar?”, conta André. Assim surgiu a Associação Desportiva Cultural Projeto Brazil-021, que funciona como uma instituição sem fins lucrativos que busca transformar vidas através do Jiu-jitsu.

 

O Professor Marcio de Deus também é responsável por um projeto social, o Lutadores de Cristo, que funciona em parceria com a Infight, equipe de Marcio. Desde a faixa roxa, o professor já tinha o desejo de criar um projeto que beneficiasse as crianças da Cidade de Deus, onde mora. O Pastor Josué Branquinho, da Igreja que Marcio frequenta, também é praticante e amante da arte suave e incentivou o professor a criar o projeto. “Custumo dizer que somos plantadores de sonhos, alunos que nunca saíram de Jacarepaguá hoje sonham em ir lutar nos Estados Unidos e muitos tem realizado esse sonho. É muito gratificante ver isso, é meu salário”, conta Marcio sobre o sucesso do Projeto Lutadores de Cristo.

 

Benefícios para todos

Há muitas vantagens na prática de uma arte marcial, principalmente para crianças. “O Jiu-Jitsu trabalha diversas áreas. Além da socialização das crianças, dos aspectos físicos e motores, podemos destacar a disciplina, a auto-confiança e a superação nas adversidades”, conta o Professor Christian Ribeiro, do projeto Geração UPP que, junto com o Professor Thiago Diorgenes, leva Jiu-jitsu a jovens da Providência, no centro do Rio. Em 2010, eram ministradas aulas de defesa pessoal para a tropa da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Providência e algumas crianças entraram no local para assistir. Então, o comando da Unidade sugeriu que os instrutores abrissem uma turma de Jiu-jitsu para as crianças.

 

Os benefícios do Jiu-jitsu vão além da prática de uma atividade física e os ensinamentos são levados para a vida toda, como ressalta Natan de Jesus, que tem 17 anos, é faixa azul e faz parte do Projeto Brazil-021: “O Jiu-jitsu não só trabalha com a parte física, mas também com a mental. Não traz só benefícios para a vida pessoal, mas a social também. Você faz amizades novas, conhece lugares novos, participa de campeonatos”, diz o aluno. Natan ainda contou que antes de conhecer a arte suave, era brigão, costumava pensar só em si, mas o Jiu-jitsu o ensinou que ninguém aprende sozinho e quanto mais pessoas estiverem ao seu lado para aprender e compartilhar o conhecimento, melhor.

 

Além dos ganhos para os próprios alunos, há também o aprendizado para os professores e demais envolvidos com os projetos sociais. Os professores falam sempre em ajudar o próximo, passando seu conhecimento adiante e quanto eles também aprendem com os alunos. “A gente aprende muito com eles. É uma grande troca, sempre que estamos com eles nós damos o nosso melhor. Levamos para casa todo o carinho, admiração e a vontade de mudar de vida e vencer”, conta Christian.

 

Material de treino

O Jiu-jitsu não é um esporte barato. Tatame, kimono, faixas e demais materiais de treino são caros e muitas pessoas não conseguem comprar. O tatame do Borel foi uma doação de alunos da Brazil-021 dos Estados Unidos, que arrecadaram dinheiro e compraram o tatame para o projeto. Tanto esse como o Geração UPP e o Lutadores de Cristo recebem doações de materiais ou fábricas que vendem a preço de custo. Marcio de Deus também trabalha como árbitro de Jiu-jitsu para conseguir ajudar os alunos. Marcio conta também que alguns de seus alunos trabalham como staff em algumas competições para pagar inscrições em campeonatos. 

 

Além das doações, meios de conseguir custear os treinos são seminários beneficentes, vendas de produtos da equipe (como camisas, adesivos), sorteios e rifas. Os pais dos alunos, em alguns casos, também ajudam como podem para o sucesso dos projetos, como em realizações de eventos (as graduações, por exemplo).

 

Sucesso nas competições

Por esses (e outros) projetos sociais serem realizados em comunidades do Rio de Janeiro, o olhar de fora pode vir acompanhado de preconceito. Mas os professores constantemente encorajam seus alunos a traçar um objetivo e saber que todos são capazes de realizar seus sonhos. Nos três projetos apresentados, existem inúmeras histórias de sucesso, tanto na vida pessoal quanto no ambiente de treino e nas competições. Todos os professores já levaram alguns de seus alunos para lutar em importantes campeonatos fora do Brasil.

 

Ano passado, o então aluno do projeto Geração UPP Gabriel Monteiro foi campeão mundial da Federação Internacional de Jiu-jitsu (IBJJF) na faixa azul. Hoje, Gabriel foi convidado a participar de outra equipe. Natan, do Projeto Brazil-021 também participou do Mundial e ficou em terceiro lugar. Recentemente, a atleta Gabi Pessanha, do Lutadores de Cristo, foi para a Califórnia lutar o Pan-Americano de Jiu-jitsu da IBJJF e ficou em primeiro na categoria e terceiro no absoluto.

 

Além dessas competições, esses três alunos costumam estar no pódio dos campeonatos do Rio. Não só eles, mas todos os alunos são incentivados a viver a adrenalina dos campeonatos e ter a experiência de botar em prática o que é passado nos treinos, além de estar em contato com outras equipes e alunos de diversas partes do Rio. 

 

Isso que o Jiu-jistu é capaz de proporcionar, professores apaixonados pela arte suave que passam adiante seu conhecimento e os valores das artes marciais, mudando a vida de seus alunos dentro e fora dos tatames.

 

 

**As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade da autora, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do BjjLaw.com.br

 

Graduanda em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e praticante de Jiu-jitsu.

2016 © BJJLAW LEGAL SPORTS. Todos os direitos reservados.

bottom of page