
Escolher a primeira palavra para expor sua opinião sobre determinado assunto sempre será uma tarefa difícil, pelo menos para mim, pois a responsabilidade e suas consequências são altas, principalmente quando se trata da primeira vez.
Selecionar temas para serem abordados periodicamente talvez seja outro embate, que deve ser tratado com cautela diante dos diversos assuntos que envolvem o mundo das artes marciais; principalmente com a velocidade que as informações chegam atualmente.
Como toda boa educação, decidi apresentar primeiro o meu contato com as Artes Marciais, para depois chegar à proposta da BjjLaw; e na posição de advogado devo fundamentar as razões que me levaram a escrever para um público tão seleto.
Iniciei nas artes marciais com o meu pai, Genilson José da Silva, me ensinando na sala da nossa casa uma arte marcial aprendida por ele na década de setenta, o Atemi. Ouvia atentamente, desde os meus seis ou sete anos de idade, todas as histórias da cultuada Academia Guanabara localizada na Rua João Silva em Olaria comandada pelo Mestre José Vinagre.
Meu pai falava de inúmeros feitos, que incluíam combates pessoais e demonstração de pura técnica do Mestre Vinagre em eventos chamados de Vale-Tudo ou visitas “amistosas” que recebia em sua academia no subúrbio do Rio de Janeiro. Eu não fazia a mínima ideia do que se tratava, queria apenas escutar, aprender e ser como o meu pai, meu primeiro Mestre.
Meu primeiro Mestre
Ele me ensinava Atemi e Capoeira, tudo em um espaço de menos de quatro metros quadrados. Velocidade e precisão para não correr o risco de quebrar alguma coisa sempre foi a regra. E nunca quebramos… Até porque a minha mãe era “black Belt” na organização do lar. O tempo foi passando, eu fui sendo preparado para conhecer o Mestre Vinagre, mas antes disso, por falta de alguém que me acompanhasse até Olaria, não poderia ir no “Templo” em que o meu pai treinou.
Então comecei a treinar Capoeira no SESC da Tijuca, no Grupo Engenho junto com o meu pai e através do Mestre Edvaldo Baiano. Mas toda terça e quinta treinávamos Atemi na sala de casa, nunca foi esporádico, sempre com horário para começar e para terminar. O treino era sagrado e sempre foi levado a sério.
Quando chegou o momento em que pude ir sozinho, meu pai combinou comigo que eu iria para Olaria assim que terminasse a aula; nessa época eu estudava em Vila Isabel. E assim foi feito; durante o percurso ficava imaginando o lugar e as pessoas que conhecia por fotos e histórias contadas.
Para mim era tão envolvente que passei do ponto de ônibus que deveria ter descido e parei no ponto final. Nessa época não tinha celular e tão pouco Google Maps (não tenho problemas em revelar a minha idade). Imaginei o semblante do meu pai me esperando na academia junto com o Mestre dele; e fui imediatamente para o local.
Academia Guanabara (Atemi)
Era de noite, e quando cheguei escutava os sons dos movimentos e dos alunos ao subir a escada. Meu pai falou para colocar o uniforme (calça de quimono e camiseta) e voltar. Coloquei o uniforme tão rápido que tenho até a sensação de que já estava com ele.
Então eu escutei: – Esse é o garoto? Pode entrar, meu filho!
Era o Mestre Vinagre indagando ao meu pai e falando comigo. Um senhor com seus sessenta anos de idade, mas com uma vitalidade impressionante. Forte como um Leão e rápido como um gato. Fiz a saudação ensinada pelo meu pai e vi o sorriso no Mestre Vinagre.
Ele me colocou na formação e começou a me pedir golpes, que ele chama de “Treino-Escola”, conhecido por alguns como “sombra” no boxe; no entanto com algumas particularidades e formas bem objetivas de desferir e receber golpes.
A cada golpe pedido eu respondia automaticamente, conforme fazia com o meu pai. Depois disso ele me colocou com os demais alunos em um treino de agilidade e resposta rápida, chamado de “Um com Um”.
Passado isso, chegou o tão esperado momento, o combate, que eu conhecia como “Pega” de tanto ouvir meu pai falar.
Por ironia do destino, meu primeiro combate foi com um sobrinho de um renomado aluno da época do meu pai (que trocavam energia constantemente), que por razões éticas não citarei os nomes. Fiz tudo que aprendi, sei que meu adversário percebeu que eu tive um bom Mestre, pois ele tinha as marcas das minhas mãos no rosto e nas costelas. Depois desse dia não treinava mais Capoeira; terça, quinta e sábado era Atemi.
Talvez, para alguns leitores, esse nome deve soar estranho, mas não deveria, pois se trata da parte traumática do Jiu-jitsu e de diversas outras artes marciais, que ao longo do tempo não tem sido mais ministrada nas diversas academias espalhadas pelo mundo. José Vinagre foi aluno do George Gracie, um dos Irmãos Gracie, que na época era o que detinha maior prestígio nos eventos de Vale-Tudo, e assim teve a sua base no Jiu-jitsu do George Gracie. Desenvolveu uma metodologia de ensino do Atemi-Wasa (técnica de aplicação de golpes traumáticos nas partes sensíveis do corpo) sem pretensões financeiras, apenas por amor à arte marcial.
Conhecendo a Arte Suave
A vida fez com que eu não tivesse mais possibilidade de treinar devido ao serviço militar obrigatório e o trabalho. Foi nesse momento que o Jiu-jitsu entrou na minha vida. Eu devia ter 17 anos e era faixa marrom de Atemi e faixa verde de Judô quando conheci o Prof. Carlos Henrique, (atualmente Faixa Preta 6º Grau - Professor em Abu Dhabi), formado pelo Grande Mestre Francisco Mansur.
Morávamos na mesma rua e ele sempre me convidava para treinar, até que meu pai autorizou e comecei. Em 1995 ou 1996, passei quatro anos indo para a Base Aérea de Santa Cruz, treinando Jiu-jitsu e ainda tinha tempo para namorar aquela que viria a ser a mãe dos meus filhos (Arthur, 9 anos e ainda não sabemos quais os presentes que estão no ventre da minha amada Márcia, mas já temos os nomes escolhidos).
Iniciei a faculdade de Educação Física, interrompi com o Jiu-jitsu e depois fui obrigado a trancar o curso no 4º período por razões profissionais. Retornei aos treinos com o Prof. André Terêncio, faixa preta e aluno do Prof. Carlos Henrique, mas depois novamente tive que interromper os treinamentos por motivos profissionais e posteriormente por conta do curso de Direito. Assim que tive disponibilidade para treinar, retornei aos tatames e continuo treinando sob a tutela do Faixa Preta 4º grau, Prof. Flávio Aleluia (primeiro Faixa Preta do Prof. Carlos Henrique desde a faixa branca) e assim será até o meu último sopro de vida.
Peço que me perdoem, mas como disse no início, a boa educação ensina que devemos sempre nos apresentar; e para mim é uma honra poder expressar o meu amor pelo Jiu-jitsu e o universo que envolve as Artes Marciais. Buscarei abordar temas que envolvem o Direito Desportivo e os seus reflexos no cotidiano dos praticantes, profissionais e entidades envolvidas. Espero contribuir para a comunidade de forma positiva em busca do desenvolvimento da Arte Suave e os demais desportos que a cercam.
Assim como no Jiu-jitsu será esse espaço: muito trabalho e respeito.
**As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do BjjLaw.com.br

Advogado inscrito na OAB-RJ, pós-graduando em Direito Desportivo pela Universidade Cândido Mendes e pelo Instituto de Ciência do Futebol da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, além de ser Faixa Marrom e Instrutor de Jiu-jitsu.